Dra. Ana Gabriela S. Cuoghi – A saúde das crianças é uma preocupação constante dos pais e responsáveis, pois elas estão em constante movimento, na escola ou em casa, especialmente quando aprendem a andar e sentem a liberdade para correr e pular, levando a lesões ortopédicas.
Em grande parte, as lesões ortopédicas mais comuns em crianças são em decorrência de acidentes que ocorrem no dia a dia, sendo as fraturas uns dos problemas mais recorrentes, exigindo atenção e cuidados para serem evitadas.
Os ossos das crianças possuem algumas diferenças em relação aos dos adultos, mudando o modo como são tratadas as fraturas. O osso da criança apresenta maior elasticidade e porosidade, e como a criança está em crescimento, a capacidade de seu corpo de formar e desenvolver os ossos é superior à do adulto.
A maioria das fraturas em crianças é causada por quedas e afetam em maior proporção os membros superiores, como clavícula, punho, antebraço e cotovelo, e os principais tipos incluem:
Fratura fechada: não há lesão da pele.
Fratura aberta ou exposta: há uma ferida na pele que se comunica com a fratura.
Fratura patológica: ocorre em osso afetado por problemas que o enfraqueceram (doenças congênitas, infecções e lesões benignas ou malignas).
Fratura por estresse: ocorre em ossos submetidos a esforço contínuo, principalmente devido à prática esportiva intensa dos jovens.
Fratura desviada: os fragmentos do osso se deslocam.
Fratura articular: há acometimento da articulação.
Descolamento epifisário: atinge a placa de crescimento.
Fratura em “galho verde”: o osso é lascado ou trincado, e um lado dele permanece íntegro.
Fratura subperiostal: ocorre sob o periósteo, membrana resistente que envolve o osso.
Sintomas
O sintoma principal da fratura é a dor imediata produzida pelo trauma, que aumenta com o movimento ou compressão da região. A criança evita movimentar o membro fraturado e nos membros inferiores, evita apoiá-los no chão ou manca. Em alguns casos há deformidade aparente após o trauma, além de inchaço e hematomas. Às vezes se verifica uma movimentação anormal do osso no local, acompanhada de barulho ou sensação de raspar.
Por conta de o paciente ser mais jovem, pode existir dificuldade na avaliação clínica, e nestes casos o exame de imagem auxilia o diagnóstico preciso. Além disso, a conversa com os familiares relatando a situação e a forma como a criança caiu ou foi atingida também permite o ortopedista pediátrico compreender melhor o quadro para indicar o tratamento.
A primeira coisa a fazer é imobilizar o membro fraturado na posição em que se encontra para reduzir a dor e inchaço e evitar que a lesão aumente. Se houver ferimento, deve-se limpar com água corrente ou soro fisiológico e cobrir com material limpo até chegar à emergência. Caso haja sangramento abundante, fazer uma compressão na ferida.
Tratamento
O tratamento das fraturas em crianças possui muitas lendas na área de ortopedia pediátrica, pois alguns desvios de fratura, que não seriam aceitáveis em adultos, podem ser tratados com gesso em pacientes mais jovens. Há também aqueles que acreditam que todas as fraturas podem ser tratadas apenas com imobilização, o que não é verdade, pois algumas não toleram certos desvios e nesses casos os ossos devem ser reduzidos e eventualmente fixados por meio de cirurgia.
Essas fraturas costumam ter uma boa evolução, possivelmente pelas crianças estarem menos sujeitas a traumas de grande impacto, utilizarem imobilização por tempo menor e pelo fenômeno da remodelação.
O tratamento dependerá da avaliação do ortopedista pediátrico. Cada caso deve ser avaliado individualmente e a decisão deve ser tomada em conjunto com a família. Sua escolha depende de fatores como idade da criança, gravidade, tipo e localização do trauma, além de características individuais da criança, e podem incluir:
Imobilização: a maioria das fraturas pode ser tratada com esse modo conservador. Devido a sua capacidade de remodelação, as pontas fraturadas não precisam estar em encaixe perfeito, ou seja, desvios são aceitáveis, conforme o osso, a localização da fratura e a idade da criança.
Redução: algumas fraturas com desvio necessitam ser reduzidas (colocadas no lugar) sob anestesia geral, local, regional ou, em alguns casos, sem anestésicos. Esse método dispensa a internação e faz a dor passar rapidamente.
Cirurgia: certas fraturas exigem cirurgia para o posicionamento adequado dos fragmentos da fratura e/ou fixação, com pinos, hastes, placas, fixadores. Também requerem procedimento cirúrgico as que afetam a articulação, as que atingem a placa de crescimento, fraturas expostas e casos em que há ferimento da artéria.
Por todas essas particularidades existentes no público infantil, é importante consultar um especialista em ortopedia pediátrica que identificará o tipo de fratura e o melhor tratamento.