Dra. Ana Gabriela S. Cuoghi – A vigilância do quadril é um protocolo de acompanhamento clínico voltado para crianças com paralisia cerebral, com o objetivo de detectar precocemente alterações na articulação do quadril, como subluxações ou luxações.
Em crianças com paralisia cerebral é muito frequente ocorrer a luxação do quadril, o que requer atendimento ortopédico pediátrico assim que tenham o diagnóstico da doença, para não comprometer o bem-estar da criança, prejudicar sua funcionalidade e gerar dor crônica.
A luxação do quadril começa silenciosa e progride na maioria das vezes lentamente, levando a deformidades nos quadris, obliquidade da pelve e escoliose, dificuldade para se sentar ou caminhar, impactando a qualidade de vida desses pacientes. Acontece quando o encaixe entre o fêmur e o acetábulo não se mantém congruente devido a forças musculares atuando, como a força adutora e a força flexora do quadril.
Como fazer a vigilância do quadril?
O ortopedista pediátrico é o médico responsável por dar seguimento à vigilância do quadril em crianças com paralisia cerebral, e pode fazer isso a partir da avaliação de uma radiografia simples, que possibilita fazer grande parte dos diagnósticos.
Com a radiografia da bacia é possível avaliar se o quadril está congruente ou fora de lugar e se ele está subluxado ou se o acetábulo está displásico, ou seja, se perdeu sua forma.
No entanto, mesmo com radiografias “normais” algumas crianças apresentam abdução limitada – conhecida como marcha em tesoura, e por isso a importância do exame físico pelo médico.
É o momento da intervenção do ortopedista pediátrico com aplicação de toxina botulínica ou cirurgia (tenotomia) para liberar os tendões e prevenir a luxação do quadril. Nessa etapa mexe-se nas partes moles (não ósseas), para que o fisioterapeuta trabalhe a amplitude do quadril e mantenha a congruência.
Existe uma segunda etapa de vigilância do quadril para prevenção da luxação. Ela acontece na presença de subluxação, principalmente em crianças não deambuladoras ou que não ficam em pé. Nesses casos o tratamento é cirúrgico com o objetivo de redirecionar o colo do fêmur para ficar mais congruente no acetábulo.
O que fazer no quadril que já luxou?
O quadril com luxação também pode ser tratado cirurgicamente, mas o diagnóstico precoce é essencial, pois a cirurgia preventiva pode evitar as cirurgias ósseas, mais complexas e necessárias nos casos em que a subluxação não foi diagnosticada precocemente.
De qualquer modo, a prevenção ainda é a melhor alternativa! Se seu filho possui paralisia cerebral ou qualquer outra condição neuromuscular com risco de luxação do quadril, é fundamental a vigilância com o ortopedista pediátrico.
O início precoce da vigilância permite que intervenções sejam feitas a tempo, prevenindo complicações mais graves no futuro.
Dra. Ana Gabriela Santana Cuoghi é ortopedista pediátrica da equipe do Instituto Wilson Mello.