Dra. Juliana Doering – O tipo de pisada é influenciado por características individuais, como a anatomia dos pés, a estrutura muscular e a flexibilidade das articulações. Ele pode ser determinado ao acaso ou até mesmo ter origem hereditária.
Existem três tipos principais de pisada:
• Pisada neutra ou fisiológica: O pé toca o solo de maneira equilibrada, distribuindo o peso corporal de forma uniforme. Cerca de 45% a 60% da população brasileira possui esse tipo de pisada, que é considerado ideal, pois não sobrecarrega nenhuma área específica do pé, garantindo uma distribuição equilibrada de forças nas articulações.
• Pisada pronada: O apoio no solo ocorre majoritariamente na porção interna do pé, o que causa desgaste dos calçados na parte interna. Está presente em 25% a 35% da população brasileira e, na maior parte dos casos, trata-se de uma adaptação mecânica normal. Geralmente, observa-se a ocorrência de pé plano (ou pé chato), que pode estar associado à frouxidão ligamentar.
• Pisada supinada: Nesse tipo, o peso é transferido principalmente para a parte externa do pé, gerando maior desgaste nessa região do calçado. É o tipo menos comum, correspondendo a 5% a 10% da população brasileira. A supinação pode ser causada por desalinhamentos articulares e desequilíbrios musculares, predispondo a lesões como entorses no tornozelo e no pé.
Embora não seja uma regra, pés planos tendem a ter pisada pronada, enquanto pés cavos (com o arco elevado) estão mais associados à supinação. Pés com arco normal, em geral, apresentam pisada neutra.
Tipos de pisada e lesões associadas
Os tipos de pisada pronada e supinada, na maioria das vezes, podem ser apenas conformações individuais normais, não sendo necessariamente variações anormais ou doenças. Na ausência de sintomas, não requerem tratamento e permitem uma vida sem restrições, inclusive para a prática de atividades físicas.
Entretanto, problemas nos pés podem surgir quando há uma pronação ou supinação excessiva, ou quando há sobrecarga em pés desalinhados (por exemplo, com o aumento do peso corporal ou carga de atividade física).
• A pisada pronada pode estar associada a lesões como canelite (inflamação na região da canela), fraturas por estresse no calcanhar e tíbia, além de fasceíte plantar (inflamação na planta do pé).
• A pisada supinada pode aumentar o risco de entorses no tornozelo, lesões e inflamações nos músculos e tendões das pernas, retração da fáscia plantar, além de fraturas por estresse nos pés, entre outras.
Além disso, alterações de pisada podem sobrecarregar articulações como joelhos e quadris, influenciando o funcionamento de todo o membro inferior.
Em alguns casos, é possível controlar o alinhamento da pisada apenas com exercícios de fortalecimento e o uso de palmilhas sob medida. Contudo, para uma correção definitiva nos casos em que o tratamento fisioterapêutico não é bem-sucedido, pode ser necessário recorrer à cirurgia.
Evitar testes de pisada em lojas de calçados
É fundamental consultar um ortopedista especializado em pé e tornozelo para a recomendação de exercícios específicos, palmilhas personalizadas conforme a angulação do pé, e tratamentos individualizados.
Deve-se evitar a realização de testes de pisada ou baropodometrias em lojas de calçados e palmilhas sem prescrição médica, pois sem uma avaliação adequada, é comum a confecção de palmilhas inadequadas, que não promovem alívio de dor. Da mesma forma, não se recomenda a confecção de palmilhas corretivas para pessoas que não apresentam incômodos ou dores, uma vez que o uso indevido pode gerar novos problemas.
Dra. Juliana Doering é ortopedista especialista em Cirurgia do Pé e Tornozelo da equipe do Instituto Wilson Mello. CRM 144528 / RQE 58.855